Sobre ciclos e normalidade
Do clima meteorológico já não temos mais condições ideais, do resto nunca tivemos...
Escrever está longe de ser um processo linear, as ideias fluem em direções diversas e precisam encontrar estrutura sem rigidez. E esse tipo de dinâmica pode nos lembrar que na natureza muitas coisas também funcionam em ciclos.
Em tentativas humanas de controle acabamos produzindo desastres e com frequência recebemos lembretes de que podemos seguir outras direções. A coisa se complica um pouco mais quando começamos a chamar de normal coisas que são produzidas. Mas a definição de normose* já apresenta uma boa reflexão sobre isso.
Normose: Patologia da normalidade. Quando há um conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar ou de agir, que são aprovados por consenso ou por maioria em uma determinada sociedade e que provocam sofrimento, doença e morte. (Pierre Weil)
As árvores que foram arrancadas com os ventos da semana passada em SP podem nos lembrar que nos distanciar da natureza está longe de trazer conforto, ou resolver desafios, mas nos distancia de nossa essência. Vamos nos acostumando com um mundo coberto de concreto, que engessa raízes e remove paisagens. E vamos nos esquecendo de sonhar.
Estou estudando bibliografias sobre literatura, antropologia, poesia como modo de ver o mundo e ali já está apresentando o quanto sonhar é essencial para que possamos encontrar sentido, fortalecer comunidade e criar novas possibilidades. Tem tanta coisa encantadora sendo produzida e estes dias mesmo eu pude conferir um festival de arte em uma rua no centro de SP, com diversos expositores e lá também havia um espaço para apoiar uma iniciativa que foi diretamente atingida na última tempestade, pois a arte conecta e espaços assim acolhem pessoas, conexões, ideias. Por mais conveniente que pareça consumir online e simplesmente aumentar o tempo de tela, quais conexões são realmente sustentadas assim?
E o planeta tem um tanto de encantos prontos para serem desvendados mesmo em espaços urbanos e com tempo reduzido, eu acabei de ganhar de presente de ciclo novo um material sobre os pigmentos da terra e cada imagem com as camadas de cores do solo conta histórias que em anos de produção criativa eu não desvendaria. Ainda preciso cumprir as tarefas do dia a dia, mas sigo inspirada sabendo que existe mais e que é possível se conectar com isso.
Quando senti de voltar a produzir uma newsletter logo me veio esse nome Longe do Ruído, pois meus dias eram acompanhados de muito ruido sonoro de obras, noite e dia, o tipo de linearidade que só irrita e segue nos desconectando. Mas independente do que tocasse nos meus fones o ruido me acompanhava, nas mídias aceleradas, no excesso de notícias rasas, comentários em eco e propagandas incansáveis. Então um espaço para realizar outros mergulhos se torna ainda mais importante. E me lembra de uma frase que vi (sim, ironicamente) em uma mídia de partilhas rápidas. “Tem algo desmoronando. E há também algo que está nascendo. Nós escutamos o barulho do carvalho que cai, mas não o da floresta que brota...” (Jean-Yves Leloup)
E por aí, o que você anda ouvindo?
Para quem tem interesse nas referencias sobre literatura e poesia, o que eu ando lendo é de autoria de: Antônio Candido e Michèle Petit
Essa semana ouvi bastante rock anos 2000 e encerro aqui com The Who
Comecei a assistir Frieren, por enquanto estou achando tudo bem estranho, mas a vibe é tranquila, introduz algumas reflexões interessantes, então vou seguir por mais alguns episódios.
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Tenho tantas coisas pra ler Nik.
Mas algo no seu texto nos conduz até o fim.
Obrigada por este respiro!
Parabéns e beijo grande