Mesmo que seja de uma janela de apartamento na cidade eu tenho cultivado esse hábito há vários anos. E mesmo que a lua viva os mesmos ciclos com suas fases é sempre bonito de ver. Mas neste mês de janeiro a primeira lua cheia estava um espetáculo. Apareceu para mim no navegador sem eu mesmo buscar uma figurinha escrito Lua do Lobo, que pela descrição representa exatamente essa primeira lua cheia de um novo ano, é um termo mais voltado para o hemisfério norte e aqui marca o ápice do verão.
Nem sempre eu consigo observar o céu, pois além da poluição que já virou parte do cenário das grandes cidades a região de SP ou litoral sul de SP que eu geralmente hábito tem muitos dias encobertos... mas a tempestade sempre passa, e quando não tem arco-íris às vezes tem lua cheia, dourada, brilhante, grandona e emoldurada, só sinto falta de ver mais estrelas, bem mais estrelas.
No final de 2024 eu lancei meu segundo livro, com textos curtos e o título: “Algumas formas de observar a lua” que em parte nasceu desse movimento de olhar para o céu, especialmente ao longo período de isolamento social no qual alguns dos textos foram escritos. Durantes os meses iniciais da pandemia (que chegaram pouco tempo depois do lançamento do meu romance de estreia) eu não conseguia produzir ficção, era algo até então inimaginável, mas todo o resto também era.
Eu conseguia, entretanto, produzir textos mais reflexivos, como prosa poética curta, cartas quase, e alguns desses foram parar no livro. Intercalei eles com contos de histórias que nasceram com propostas mais longas, cada uma com um tema diferente. Mas todas as histórias falam de natureza e de relacionamentos (familiares, românticos, profissionais), porque uma das coisas que particularmente me encanta no universo da escrita criativa é trabalhar múltiplos olhares e outra é levantar novas questões.
Só que a nossa sociedade pós-moderna tem uma obsessão por respostas rápidas, se possível prontas e lacradoras. E uma das principais perguntas que me fizeram foi “qual foi a sua inspiração para escrever o livro?”. Só que sendo sincera eu não tive uma para escrever o livro, e sim para editar e publicar, pois ele é um conjunto de textos que vieram de inspirações diferentes.
De verdade a resposta é mais complexa do que isso e eu preferiria mesmo era trazer mais perguntas, mas estou trazendo esse tema aqui apenas para ilustrar que no universo da arte, cultura e criatividade essa ideia de encontrar respostas imediatas tem muito pouco sentido. E isso é importante para que possamos lidar com as questões que não permitem respostas curtas, ou mesmo objetivas. Existem muitos momentos em nossas vidas, tanto a nível individual, como coletivo, nos quais vamos encontrar questões que demandam novos mergulhos, mais perguntas e diferentes interpretações e talvez a literatura, as artes dramáticas possam nos ajudam a lidar com isso.
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Uma autora que gosto bastante e escreve para a Reactor Magazine publicou recentemente sobre o “escapismo na literatura”, algo que dialoga com uma passagem do livro The Storytelling Animal de Jonathan Gottcshall, que comenta que se estamos buscando fugir de algo, por que buscamos histórias tão desafiadoras, cheias de conflitos?
Mas ultimamente as pessoas têm lido menos (segundo a pesquisa retratos da leitura e algumas partilhas de professores de graduação de diferentes países), quando muito passam tempo maratonando mais series desenvolvidas a partir de fórmulas já realizadas, prontas para caber em telas pequenas e competir pela atenção em um mundo pautado pela distração. E temos olhado menos para a vista da janela.
Em diversas formações e partilhas no mundo empreendedor vi a frase “passar as coisas urgentes na frente das importantes” e entendo que em alguns momentos o urgente é o que existe para ser atendido, mas uma vida toda assim é apenas sobrevida. E no momento de caos climático em que estamos coletivamente nos inserindo se perdermos essa conexão mais profunda com o que está ao redor e também do que está em nosso interior seguiremos produzindo mais caos e seguindo de emergência em emergência.
Ainda prefiro acreditar em novos imaginários possíveis e inspiradores e que podemos coletivamente produzir sociedade mais resilientes. Agradeço por seguir sendo inspirada por iniciativas que desenvolvem metodologias e mapeiam projetos, como Gaia Education e Presencing Institute. E deixo também como indicação o último livro narrativo que li Quando as mulheres eram dragoas da Kelly Barnhill com tradução de Lavínia Fávero, que mescla fantasia com romance histórico e é um ótimo exemplo de que trabalhar temas históricos e sociais com imaginação e emoção pode ser uma combinação excelente.
🎶 Escrevi essa News ouvindo vizinhos tocando piano e gritando em quadras ao jogar bola e também um pouco de punk pop (2000´s 2010´s)
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