Você já sentiu saudade de coisas que não aconteceram?
Existe um termo que encontrei como “anemoia” (tive que perguntar essa pro buscador online) que denomina uma sensação parecida. É que ando ouvindo músicas que me trazem lembranças de imaginários de anos atras.
O bom de ser artista, de escrever ficção, é que ali a história pode existir na época e contexto que eu decidir (é mais complexo do que isso, mas existe a flexibilidade de ir além do possível e tangível agora). Porém, qualquer narrativa ficcional que eu reescreva atualmente partindo de um contexto antigo será diferente e nem só um diferente de personagens mais velhos, ou uma outra tecnologia. Algumas construções de comunicação e trabalho são outras e já vivenciamos a alteração do clima.
Devo confessar que há uns 10 anos eu era mais otimista sobre o contexto socioambiental. Mas mesmo que as cenas de estação alagada em SP da última semana sejam assustadoras, assim como foram todas as outras de desastres em diferentes locais nos últimos anos, eu sigo acreditando que as narrativas que endereçam questões ecológicas podem ir além do apocalipse. Já vi bons exemplos disso na arte, na teoria e na realidade mão na massa.
Tenho voltado a acompanhar mais atualizações de referências ecológicas mundiais e uma das iniciativas que pipocou por aqui esses dias foi a Local Futures, a proposta do movimento é de valorizar o que está próximo, o que é da sua região, basicamente conhecer os seus vizinhos. Vale refletir se você tem visitado cafeterias, livrarias, galerias, armarinhos e outros empreendimentos da sua região?
Eu recentemente me surpreendi em descobrir que bem pertinho de onde eu tenho caminhado há um empório que vende vários dos itens que estou usando nos experimentos de tingimento botânico. Alguns itens achei que teria que encomendar online, pois parece que essa é a lógica para a qual estamos caminhando, mas era só expandir o olhar.
As experiências com cores naturais têm me proporcionado uma reconexão com a natureza que desde os primeiros projetos de hortas de quando iniciei meus estudos no campo de educação ambiental na década passada eu não sentia dessa forma. Aprendizados assim, observando os ciclos, me familiarizando com os elementos ao meu redor, reforçam a esperança em cenários diferentes da destruição e do caos.
Por outro lado, tenho escrito menos ficção. Talvez o meu romance tenha pedido pausa para eu mergulhar mais no universo das tintas naturais, que inclusive faz parte do contexto de uma das personagens. Talvez essa seja a desculpa que eu esteja escolhendo, pois encontrei uma barreira em um dos meus projetos editoriais... até já comecei a trabalhar nela, mas isso acaba criando um efeito nas outras coisas.
Geralmente quando a gente busca racionalizar demais as coisas e insiste em focar no desafio a situação não anda..., mas o bacana é que o universo da literatura é imenso, então ainda antes do fim de janeiro eu tive a oportunidade de acompanhar um ateliê para livro objeto. Se esse termo é novo por aí recomendo conhecer o trabalho da Juliana Pádua / Literatura Infantil - YouTube. Foi uma tarde de imersão que me moveu lavar as mãos no meio do processo de tão coloridas de giz pastel com cola que elas estavam. Criar no campo das ideias é bem diferente de produzir no campo manual e qualquer momento é momento para lembrar que criar e brincar não são apenas atividades para crianças, nem tudo precisa ser sobre produtividade e o aprendizado acontece mesmo em espaços não lineares. É claro que ajuda bastante quando o espaço é uma livraria linda com área externa que tem árvores e esculturas de dragões.
Sendo sincera ainda existem alguns momentos em que eu penso em como seria legal caminhar no calçadão em 2014, ou produzir alguns projetos uns seis ou sete anos atrás, ouvindo as bandas que eram atuais e projetando um cenário pré-pandêmico. Mas eu só tenho a possibilidade de produzir no agora e vez ou outra ele vai ser de chuva e notícias tristes. Me acostumar com isso talvez seja exigir demais, mas melhorar o ancoramento e seguir produzindo são opções mais possíveis. Diante do cenário de caos, que agora aparece até na TV constantemente, não existem soluções magicas de poucos minutos, mas talvez exista magia na ciência e a própria realidade possa nos proporcionar isso. E nos momentos em que isso estiver difícil de ser identificado as histórias de ficção podem dar uma ajudinha.
🎶A maior parte do texto escrevi ouvindo The Dollyrots e outras canções em modo aleatório, o final foi ao som de chuva.
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