Mas o subtítulo é diferente, o de um é Uma Antologia de Literatura Indígena (de vários autores de diferentes etnias brasileiras) e do outro O Atlântico em Solitário da Tamara Klink, os dois foram lançados nos últimos anos e eu uso ambos como referência em atividades de escrita e literatura.
Imagino que aprender português deva ser um desafio significativo para nativos de outros idiomas, é uma língua repleta de complexidades e além das gírias e bagunça que fazemos com a tal da norma padrão temos palavras com mais de um significado e outras que variam pouco coisa na grafia.
Quando eu escrevo (principalmente ficção, mas acontece com outros textos também) é super comum que o corretor automático acabe mudando alguma coisa que eu só vou notar bem depois, ou que ele deixe passar algo que eu digitei errado para aquele contexto, mas que é uma que palavra existe com aquela grafia...
A palavra nós é uma dessas que apresenta sentidos diferentes, mesmo que um seja provavelmente mais comum no imaginário popular. A antologia é um livro de contos curtos que são inspirados em narrativas imaginadas da história oral de suas comunidades, o livro está com edição ilustrada e inspirou uma publicação mais recente a Originárias apenas com textos somente de mulheres indígenas. Aqui a palavra nós designa o coletivo, a primeira pessoa do plural, e segue a pergunta nós quem?
Já no outro livro de autoria da navegadora e poeta a ideia dos nós que segue a narrativa é da distância que mede uma milha náutica por hora. A publicação reúne poemas escritos por Tamara durante o percurso, além de passagens de conversas e reflexões que fazem parte de seus diários de viagem. Uma viagem realizada de forma solitária, mas na companhia da natureza e com milhares de pessoas seguindo via mídias sociais.
A palavra nós também pode significar amarrações, dar um nó. E a confusão está descrita, podemos procurar livros diferentes com o mesmo título dizer a mesma palavra com intenções diferentes. Mas algumas pessoas acreditam que a língua é estática e existe um único jeito correto. Tenho aprendido mais disso com algumas leituras do universo das Letras, como o Preconceito Linguístico do prof. Marcos Bagno, que foi revisado em 2015 anos após a primeira edição e traça um panorama de mudanças no idioma e erros gramaticais super frequentes que aparecem com maior frequência em escritos “formais”.
Em um período de comunicação centrada e afogada em mídias sociais nas quais ler um paragrafo até o final é raridade será que a gente pode assumir que o que acha que está dito é o que nos entendemos e que quem parece concordar conosco realmente tem contexto pra isso? Quem sabe a gente consiga continuar sustentando espaços mais profundos de leitura, escuta e interpretação, se importando menos com as palavras bonitas e chiques, ou aesthetics genéricos e mais com o conteúdo comunicado.
Para finalizar recomendo a leitura de todos os livros mencionados, o último é mais voltado para quem quer estudar sociolinguística, mas pessoas autoras de plantão, aproveitem a dica, porque escrever personagem é mais do que aprender fórmula e preencher ficha de características.
E apenas por curiosidade quando eu fui pesquisar as capas dos livros, achei vários outros com a palavra nós no título (infantil, de negócios e mais) alguns falam do outro tipo de nó. Mas vamos parar por aqui.
Valeu pela companhia e segue só mais uma indicação de leitura. E você que nem foi na Bienal RJ, nem n´A Feira do Livro em SP, ainda teremos uma cheia agenda pelo Brasil este segundo semestre.
Obs: Descobri na semana passada que eventualmente respostas enviadas direto pro e-mail podem parar na minha caixa de spam 😯Então caso eu não tenha respondido ou ao menos colocado emoji em algum comentário esse é provavelmente o motivo, pois eu não estava checando lá regularmente. Mas que ninguém se desencoraje de me enviar e-mail, é grande parte da graça desse formato. 📨
DICAS:
Recentemente eu concluí a leitura de Indígenas de Férias de Thomas King e gostei da leitura. Eu estava esperando por algo mais longo depois de semanas lendo basicamente contos e ensaios. Achei a premissa original, senso de humor presente em boas doses e críticas pertinentes. Talvez eu tenha me identificado mais do que deveria com o Blackbird Mavrias (protagonista), mas entre outras diferenças eu gosto de viajar e não consigo me imaginar voltando espontaneamente para um quarto de hotel cheio de aranhas por vários dias seguidos. Por mais que antes da pandemia eu já tenha passado uma noite em um quarto com teias e suas fabricantes em cada canto do cômodo e das camas
De vez em quando eu gosto de variar as series e conferir algum reality onde os participantes produzem algo artístico. Apareceu para mim o Vidrados (Blown Away) da Netflix e já vi duas temporadas e o especial de Natal. O ambiente parece 0% convidativo com todo aquele fogo e vidro quebrado, mas as produções são surpreendentes e eu estou em um desafio de encontrar a trilha sonora para escrever com ela. 🎶
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